23 março 2011

Jesus Cristo BBB

Assisti o primeiro BBB. Assisti, assisti. Não torci, não procurei nada e tal. Mal vi o segundo. Passei reto entre o terceiro e o décimo. Comecei a assistir o décimo-primeiro. E ontem, pela primeira vez em onze anos, me vi comemorando o resultado de um paredão.

É meio esnobe dizer que não vi os outros BBB's citados. No Brasil, você não pode fugir deles. Arrisco até que saberia citar todos os campeões na ordem. Mas enfim, nunca me interessou porque primeiro achava repetitivo e segundo nada que passa por uma edição pode ser chamado totalmente de reality. Você tem o 24 horas, tudo bem, mas o grosso do público (e consequentemente o grosso da votação) acompanha a edição com cortes e tomadas. Se você já viu trailers alternativos de filmes, como Mary Poppins como filme de terror, sabe que torturadas nas mão de um hábil diretor, as cenas podem dizer qualquer coisa. E eu lembro bem de uma entrevista que o Boninho deu para a Revista Veja, de que "se o público acha uma coisa, eu edito mesmo para parecer isso". Não sei se é falsidade ou ignorância, mas na verdade tudo começa primeiro pelas mãos dele.

Isso posto, vi que Marcelo Dourado ganhou o décimo BBB. E ganhou porque se posicionou de uma forma extremamente conservadora. Contra gays, contra um monte de coisas. Ele diz que não, mas verdade ou mentira. As pessoas que votavam nele estavam votando em um símbolo do conservadorismo. Até acho que ele não queria bandeira nenhuma, só queria o milhão e meio que deixou escapar em 2005 (2006? 2004?), mas o fato é que a "Máfia Dourada"o elegeu como Totem e assim foi. Sua vitória foi muito falada no exterior, como símbolo do atraso do reconhecimento dos direitos dos gays no Brasil.

Nessa edição, parece que com medo do que uma nova vitória do conservadorismo poderia causar, Boninho parece que escolheu pessoas muito diferentes do perfil da Máfia Dourada. São pessoas que nunca poderiam ser protagonistas de novela das oito, se fossem personagens, mas que o público do BBB (que é o mesmo da novela) teria que engolir. O Gay assumido, o Gay, latente, o Gay reprimido, a Gordinha safada, a "Modelo e Atriz" que já fez programa, a Lésbica chique, e a maior personagem de todas, a transexual Ariadna, que foi eliminada na primeira semana sob a alegação que sua postura de esconder sua condição foi o que determinou sua saída. Engano. No Brasil, você não pode ser íntegro e mudar de sexo ao mesmo tempo, você precisa ser uma pessoa sem caráter para mudar a natureza que Deus lhe deu. E a linda Ariadna foi tirada da casa praticamente a pontapés pela sociedade. A história parecia se repetir.

Nessa reta final, o oposto a esse grupo era o tal Rodrigão. E hoje, ele foi alvo de uma mega campanha que incluíram até movimentos sociais. Assim como Dourado ganhou por algo que não defendia com o coração, Rodrigão perdeu por algo que não defendia com o coração. Mas foram os símbolos, os Totens eleitos para representar certos ideais.

Nesse meio tempo, sobrou um improvavel novo favorito, que poderia muito bem ser o campeão. E talvez com a saída de todos os "corretos", seja o mais próximo disso. Falo de Wesley, que os mais consevadores podem enxergar como messias nesse BBB

Wesley é um exemplar peculiar de homem. Pode ser que não seja assim na vida real, mas todo homem deveria tentar ser a imagem que Wesley mostra. Tal qual Jesus, ele caminha no meio dos "errados"; Daniel se corta e o Doutor vai lá e faz um curativo de verdade, tal qual um Jesus curando os leprosos. Tem a sua própria Maria Madalena, a dita prostituta que querem apedrejar e que já o colocou no paredão. Na hora de escolher quem deveria ser perdoado, Wesley deu a outra face e votou em Maria para a salvação, sem remorso e sem vingança. Foi negado não três, mas cinco vezes, e mandado ao paredão. teve a sorte de não ser protagonista de nenhum. E agora, se for líder mais uma vez, chega como muito bem cotado para a final.

Tenho amigas que BBB bom tem barraco. Eu discordo. Reality tem Conflito, e barraco é um tipo de conflito. Não houve nenhum barraco entre ele e o músico Maurício, mas o conflito entre eles foi o que fez Wesley deixar de ser um mero coadjuvante. Jesus Wesley caminhou por 40 dias no deserto enquanto sua Madalena ia ter com a Tentação. Wesley foi paciente e sempre se mostrou ali, disposto. O que podem julgar como afinar, foi na verdade um gesto de respeito que talvez Maria não estivesse acostumada na vida.

E talvez assim, por agradar tanto os gregos conservadores e os depravados troianos, Wesley ganhe força nessa reta final, já que quem gosta dos outros três, geralmente gosta dos três como um todo e não de apenas um, o que dilui os votos.

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