17 setembro 2012

o inverno russo

Eu já traí, e mais de uma vez.
Também já fui traído, e mais de uma vez.

Mas o pior é trair a si mesmo.

Andei pensando muito sobre a Grande Guerra do Norte. Eu era o Império Sueco quando terminei o ensino médio e tinha um exército enorme para marchar por toda Europa. Tal qual Carlos XII marchei por cima de dinamarqueses e poloneses, e senti que era invencível.

Mas eu também tinha dentro de mim os russos.

Carlos XII já havia derrotado o Czar Pedro, o Grande, na batalha de Nerva. Mas em vez de consolidar sua vitória, se acomodou, assim como eu que tinha sido iludido no meu colégio classe média imbecil do Jardim Guanabara que não havia sucesso maior que passar no vestibular em uma faculdade pública. Isso permitiu que os russos se organizassem e através da nova cidade por eles fundada (São Petesburgo) os alicerces que sustentavam o enorme exército sueco começaram a ruir. Carlos XII ainda insistiu em lutar loucamente no meio do inverno, e eu só percebi que tinha alguma coisa muito errada quando chorava só de saber que estava na hora da aula, assim como Carlos XII só se deu conta da derrota quando fugia com os 1500 combatentes  sobreviventes da batalha de Poltava.

Por que Carlos XII insistiu tanto em acreditar numa guerra perdida a muito mais tempo, perdida anos atrás por erros dele? Carlos XII fazia questão de acreditar que não errava, então não tinha o que consertar. Carlos XII fingia que estava tudo bem para ele mesmo.

Talvez o maior medo de Carlos XII era assumir que iria decepcionar alguém que confiava nele. Não o julgo.

O fim da história é a que vemos hoje. O império sueco não existe mais e o inverno russo acabou para sempre com todas as vontades magalomaníacas da Suécia de ser uma potência mundial. Tenho certeza que Carlos XII se culpava por ter deixado os russos ali, sem fazer nada. Ele devia saber que aquilo foi sua ruína. Por causa daquelas batalhas em 1709 e 2005 a história posterior seria pior do que deveria ser e 300 anos depois a Suécia não conseguiu voltar a ser o que era.

E nunca voltará. Cada vez que os suecos tem chance de algo melhor eles devem olhar uns para os outros e se perguntar: "Mas e a Grande Guerra do Norte, vocês lembram?"

E cada vez que eu penso que existem enormes possibilidades de morrer sem deixar uma marca no mundo, me culpo de ter desdenhado do rigoroso inverno russo.

07 abril 2012

Gambiarras

A cama quebrou. De um lado está suspenso por uma pilha de livros que volta e meia escorrega e tem que ser refeita. Mais acima tem outra pilha de livros porque a barra horizontal do estrado estava estalando perigosamente e pelo menos desse lado tudo se resolveu. Minha estante inclina perigosamente para a esquerda, um dia tudo pode ir abaixo devido ao peso dos livros. A torneira do chuveiro arrebentou e a solução sem quebrar a parede foi instalar uma válvula entre o cano e o chuveiro. Meu PS2 não quer mais funcionar em alguns momentos e com alguns jogos. O controle também de vez em quando some, tendo que mexer o cabo até voltar (e assim estragando cada vez mais). Não tenho armário e minhas roupas ficam penduradas numa arara de camarim. Muito estiloso isso, mas sempre vítimas da poeira e da ação do sol. Minha mesa do computador, sabe-se como depois de uma obra, conseguiram quebrar a prateleira móvel onde ficava o teclado e o mouse e eles estão mais altos do que deveriam estar. Meu computador então é o pior dos casos, Já queimou tanta coisa, que não consigo instalar mais nada nele. Não consigo usar o meu perfil a mais de um ano, não tem Drive de DVD/CD, o HD está repleto de Bad Blocks e se eu tento abrir certas pastas ele trava. A internet sem fio que ele tem via USB de vez em quando para de funcionar. Se eu deixo ele ficar muito tempo sem ser usado, ele congela e nunca mais sai.

E eu não tenho dinheiro para consertar nada disso. Falta pagar a última parcela do que devo ao cartão e ainda nem tenho esse montante. Tudo que me sobra mal dá para ver a namorada.

Eu tenho certeza que se eu parar para pensar quando a minha vida começou a dar errado eu sei, eu conheço o ponto que foi. Mas o importante é que eu quero e preciso sair disso. Só não consigo.

E hoje a noite, a lâmpada do teto, mesmo quando desligada, dará umas piscadas de repente, como se fosse ligada e desligada, como já vem fazendo algum tempo.