18 agosto 2011

O Terno de Asperger

Definitivamente eu tenho alguma grande dificuldade em obedecer certas ordens. Se por um lado isso é ruim em muitos momentos (não passe no sinal vermelho, deixe seu recado após o sinal, não assista esse novo filme do Win Wender) em outros alguns atos após me sentir muito preso executar uma tarefa dá uma sensação de realização e liberdade que quem pratica esses atos normalmente não sente.

Sábado irei usar um terno. A última vez que usei um terno foi em 2004, Maio. Era um casamento que o local da recepção (o feioso Clube Naval na Av. Rio Branco) exigia o uso de terno. Eu odeio terno. Eu continuo odiando terno. Antes dessa data, teve uma oportunidade em que eu tinha a opção de usar terno e não usei. E tudo isso porque comecei a ouvir que eu ficaria bem de terno de tal forma que começou a parecer que eu SÓ seria um bom homem se usasse terno, e que não gostar de usar terno só era algo contra mim. Usei uma desculpa (de que não ia poder usar porque ia também operar o som da banda da festa) e vesti uma camisa social normal. A de sempre, inclusive. Mas dessa vez, não só o terno não é obrigatório como não tinha ninguém insinuando que eu deveria. Daí eu - esse espírito mimado que não gosta de ordens - fui lá e fiquei feliz da vida com a escolha do aluguel que estou até pensando em comprar um. Quem te viu, quem te vê. Para um cara que escreveu uma letra que o título é "engravatados enforcados" é uma senhora mudança.

Mais ou menos assim que ando me sentindo normalmente. Livre. A Doce tá no papel de parede do celular porque eu quis, e não porque ela citou que não estava de tal forma que me brochava colocar em seguida. Uma coisa que eu sempre tentei fazer foi uma música para alguém. Quem pediu não conseguiu e quem eu queria muito fazer nunca conseguia terminar, mudava refazia. Tudo pelo medo de não estar agradando o bastante. A Doce ganhou a dela e eu nem tive muito trabalho, foi fácil. Em vez de pedir, ela me fez querer fazer. Propositalmente ou não, aí não sei.

Não que tudo e todas sejam grandes vilãs e a Doce a grande mocinha da minha vida, nunca pensem um negócio desse. A diferença é que é uma das poucas vezes da minha vida que me sinto livre, me sinto leve, sem a pressão, sem uma cobrança grande (todo relacionamento tem alguma).. E talvez, e é um grande talvez, quase um com certeza, seja exatamente essa a peça que falta no motor: Em vez de um câmbio cheio de marchas que manipula o torque, uma embreagem que deixa o motor girar na velocidade que quiser.

Aliás, já contei para vocês que depois de tantos anos tremendo na frente de um volante consegui estacionar um carro?

11 agosto 2011

Perdoai as nossas ofensas

Se pararmos para pensar, vamos perceber que as maiores atrocidades da história foram todas cometidas em nome de um bem maior. Foi em nome de um bem maior que os judeus sofreram o que sofreram, foi em nome da soberania de uma religião que uns caras enfiaram um avião num prédio, foi por proteger alguém que nós, que não temos tantos poderes assim, mentimos.

Claro que mentimos por maldade, por vezes. Mas ninguém gosta da mentira. O seu organismo não sabe reagir muito bem quando você conta uma mentira. Para todas as suas células, você está ficando vulnerável. Mas mesmo assim, somos impelidos a fazer esse vil ato quando achamos que a pessoa não precisa (ou não pode) saber da verdade.

Normalmente, nosso primeiro pensamento é subverter a pergunta. Não mentir, mas também não contar a verdade. Se a pessoa insiste, mudamos de assunto sutilmente. Se a pessoa insiste mais ainda, mudamos de assunto como um elefante dança lambada numa loja de cristais. Se a insistência permanece, mentimos. E não, isso não justifica nada. Mentimos para nos proteger também. Para nos proteger da culpa que é magoar alguém que não fez nada de mal para a gente. O pedinte implora por um trocado e você diz "Hoje não dá". Esse hoje se repete todos os dias. Mas nos alivia dizer "só hoje serei cruel e não ajudarei esse pobre coitado a se alimentar ou se drogar, o que for mais importante para ele".

Minhas mentiras não são bonitas, não estão aqui em nome de um bem maior como fim. Podem até ter um bem maior envolvido, mas é um meio. O fim é não me sentir culpado por magoar ninguém. Já fizeram isso comigo muitas vezes, eu faço com outros, esses outros já devem ter feito com alguém. O problema é um fator de risco que as vezes explode e vaza na sua cara: Ser desmascarado.

Se você quer mentir, tem que se preparar para mentir o tempo todo. 24/7. Um pequeno descuido e você - que achou que não estava sendo observado - fica de cuecas, com a calça na mão, na frente de todas as suas tias-avós. E aí, a pessoa que você quis proteger está magoada. E não apenas isso, ela agora TEM o direito de ficar com raiva de você, e pode usar (para ela mesma) a desculpa do "ele mentiu" para ficar com mais raiva ainda, apesar da raiva maior ser outra, a que ocasionou a mentira.

Não sei se desculpas adiantam num momento desse. "tudo que fiz foi para te proteger do perigo maior que é você". Mentira, tudo que quis era não ter o ônus de carregar a cruz do sofrimento de alguém. Foi o equivalente as apostas do "O dobro ou nada". Pois então, deu "dobro". Agora só resta o tempo que deixa tudo ficar mais leve.