29 outubro 2010

Os Inexistentes - Paulo e o Pênalti

Quando se tem nove, dez anos, as coisas parecem maiores do que realmente são. Um adulto olha e acha graça da importância de algumas coisas para as crianças, mas eles é que se esqueceram o quanto era bom ser criança e acreditar que aquilo que era importante. Aos dez anos Paulo estava de frente a um desses desafios que dividem águas, acontecimentos que não saem no jornal, mas que deveriam sair mais do que aquele tal de Plano Real que todo mundo falava e Paulo não entendia nada, mas serviria para um tal de FHC ganhar de um tal de Lula. O ano era 1994, Romário tinha unido a geração 80 e 90 numa inédita comemoração de Copa do Mundo e Paulo sabia que poderia fazer parte dessa conquista, bastando fazer o que tinha proposto. Pelo lado da turma 404, ele arrumando a bola na marca do pênalti. Pelo lado da turma 403, o menino mais alto da turma, fechando o gol. Obviamente, um repetente que o que sabia fazer de melhor era jogar bola. Era o último jogo do ano e a cobrança estava autorizada.

***

Paulo era o segundo melhor aluno da turma. Era bom em Matemática, ótimo em Estudos Sociais, razoalmente bem em Ciências e tinha um desempenho aceitável em Português. O melhor aluno era o melhor amigo de Paulo e era seu xará também. Esse outro Paulo, inclusive, era tão confiante e cheio de si que declarou que se um dia tirasse nota vermelha, se matava. Curioso ou não, esse mesmo menino 11 anos depois e já na faculdade tentou se matar ingerindo remédios, sem sucesso.

Mas Paulo, o nosso Paulo, tinha um ponto fraco: O Futebol. Não só o tal esporte bretão como todos os outros. Sua habilidade física se resumia a velocidade com que os seus dedos comandavam o Sonic e seu Mega Drive. seus chutes eram fracos e sem direção. Se batia de lado, a bola perdia força muito rápido. Se batia de bico, a bola perdia direção e nunca ia ao lugar certo. Sua falta de talento só não era maior porque era a 4ª Série, atual 5º ano, e o futebol não funcionava com regras muito convencionais.

Essa idade era a última antes da Educação Física ficar séria naquele colégio. Era o último jogo sem muitas regras. Só tinha linha de fundo: Se a bola batesse na arquibanca lateral, tá valendo. Os jogadores tinham que estar em números iguais para cada lado, e tá valendo se forem 7 contra 7, 11 contra 11 ou 13 contra 13. Substituições ilimitadas e sem parar o jogo. Toda a praticidade que só as crianças conseguem fazer. E era sempre o time da 403 contra o time da 404.

Ninguém ficava contando as vitórias de cada lado ao longo dos anos. Então esse era o último jogo, onde tudo se decidiria. Tudo o quê? Não sei, mas tudo se decidiria.

Paulo assistia muito Apito Final na Bandeirantes, e tinha visto uma entrevista com Marcelinho Carioca, que explicava que bater na bola precisava ser assim, assim e assim. Se for para bater forte, nem tanto com o bico, tente usar um pouco os três dedos e... e Paulo foi movimentando o pé de acordo com que o entrevistado falava. Não tinha uma bola pesada para treinar isso, mas numa bola de plástico viu que dava certo. Só que vivia num apartamento e não tinha como criar um gol para ver se a pontaria estava certa.

Paulo não era popular, bem longe disso. Mesmo no meio daquela zona, era nítido e notório sua falta de talento com os pés. Tinha apelidos feios e não conseguia falar com as garotas. Não desejava todas, mas desejava que todas o desejassem. Queria ser aceito e decidiu bater o pênalti. Imaginou que com a cobrança, a vitória no último jogo significaria a vitória no ano, a redenção.

No começo do jogo, Paulo usou de toda a retórica e argumentos existentes para dizer que era o cobrador oficial daquela partida: "Hoje eu que bato pênalti, pedi primeiro!". Uns riram, outros ignoraram. Começou a partida. Logo no primeiro chute, a bola foi isolada para o prédio das turmas mais novinhas e demorou a recomeçar. A partida estava mais dura que o normal, e Paulo se limitava a se postar na entrada da sua área e chutar para a frente (ou algo próximo disso) toda bola que vinha. Na frente, André, o craque da turma 404, tentava sem sucesso acertar um chute a gol. Numa cobrança de escanteio, Paulo foi a área adversária para tentar cabecear. A bola sobrou no alto para ele.

Paulo esticou a cabeça e... a bola subiu de novo em vez de ir para a frente, ficando fácil para as mãos do goleiro, o menino mais alto de todos. Mais um lance bizonho para um jogo que a turma 404 perdia por um gol. O último jogo do ano e eles estavam prestes a levar a derrota por todo o verão no hemisfério sul. Faltando 10 minutos para acabar a partida, André passou por um e cortou a bola para a direita na entrada da área. Chutou com toda a força que podia e a bola bateu no braço de um zagueiro afobato que se jogou na frente de qualquer maneira. Num jogo sem juiz, quando o outro time nem contesta o pênalti é porque não tem desculpa.

Uma bolo de garotos começou a discutir quem bateria o pênalti. Paulo pela primeira vez estava naquele bolo, gritando argumentos plausíveis e lógicos. "Eu pedi primeiro! Eu pedi primeiro!". E foi André, o craque do time, o primeiro a defender a cobrança de Paulo, para protesto geral. "Ele não! Está louco!". Aos poucos, foram aceitando, os primeiros a concordar eram os piores jogadores, junto com os mais sacaneados e zoados da turma. As crianças não tinham noção, mas aquilo era mais ou menos como um grito de basta, pelo fim da lei da Selva na 404. André olhou para os melhores jogadores e disse: "Todo mundo aqui já bateu um pênalti e o moleque não fez nenhum gol. Deixa ele ter a chance dele". E das mão do craque FIFA do ano (se a FIFA olhasse para aquele pacato colégio no Cachambi), Paulo recebeu a bola e arrumou na marca da cobrança.

Se lembrou do ano que teve, pais separados, brigas intermináveis, sendo acordado pela mãe bêbada de madrugada. E o pior, nenhum gol. Ninguém o abraçou, ninguém veio comemorar com ele algum mérito seu. Nem ser bom aluno servia, havia um melhor, que ele se sentia culpado de ter ciúmes, já que era seu melhor amigo. Não era nem perto de ser o mais bonito da turma e as meninas não sorriam para ele com medo de ouvirem que estavam apaixonadas por ele. Mas Paulo, por um breve instante nos momentos que antecederam a cobrança, era o garoto mais importante de toda 404, que é como se fosse um país naquele mundo-colégio.

Paulo olhou fixamente para o canto que queria bater e se lembrou dos chutes naquela bola de plástico bem mais leve do que a bola do colégio. Seria preciso bem mais força, mas será que ele conseguiria a força suficiente? Será que ele conseguiria a pontaria necessária? A cobrança foi autorizada, já que não havia juiz, mas havia os gritos de "vai!". E Paulo foi.

Nunca antes na vida dele a bola seguiu com tanta perfeição ao lugar que Paulo queria, e numa velocidade impressionante para os outros chutes de Paulo. Ele deixou o pé mais vertical possível, bateu com a parte de cima dos dedos e tinha mirado bem antes do chute. Paulo usou toda a técnica possível de chutar de um jogador profissional de futebol. Mas Paulo não sabia usar toda a malandragem de um jogador profissional de futebol.

O goleiro da turma 403, que era repetente e não sabia fazer outra coisa na vida a não ser jogar futebol, viu que Paulo olhava fixamente para um dos cantos, e não teve dúvida em pular nesse lado com os pés, jogando a bola para escanteio. Gritos de alegria da turma 403, e do lado da 404 Paulo conseguiu ouvir um "Eu sabia!". Ainda nesse escanteio, André pulou forte no segundo pau e fez de cabeça. Um a um e o jogo terminou assim, menos para Paulo, que perdeu de goleada.

Na volta para a sala de aula, para arrumar a mochila e ir embora, só voltando na segunda para a última semana de provas, ninguém falava com Paulo. De certa forma, muita gente queria o gol, e ficaram decepcionados com a não-realização do objetivo. Paulo olhou para o crucifixo no corredor daquele colégio religioso e perguntou "Por quê?". Não obteve resposta. Nunca obteve resposta. Arrumou sua coisas e saiu. Queria ser Romário, mas saiu do colégio com o mesmo semblante que Roberto Baggio deixou no Rose Bowl em Pasadena, 4 meses antes.

No ano seguinte, quando a aula de Educação Física passou a ser minimamente séria e os times eram montados na escolha de dois capitães, Paulo sempre era o último a ser escolhido.

27 outubro 2010

Os Inexistentes - Renato e a Coca-Cola

Depois de uma intensa sessão sexual, Amanda pediu uma garrafa d'água para Renato, do frigobar daquele motel na Lapa. Renato voltou com a água e uma Fanta. Não tinha idéia do motivo de ter escolhido Fanta. E Amanda ao ver isso, se maravilhou. Disse que tinha uma teoria sobre homens que não escolhiam Coca-Cola, que esses homens eram mais interessantes que os outros. Eram especias e únicos, como Renato era, disse Amanda. Depois daquele dia, Renato decidiu nunca mais beber Coca-Cola na vida.

***

Renato nunca teve pressa na vida, e quando conheceu Amanda não teve pressa em conhecer. Desde que foi apresentado a ela, Renato passou 12 meses sem nem notar sua presença. Era só a namorada do amigo do amigo do antigo colégio. Ela também não se mostrava aberta a conversas. Depois de um tempo, Renato a notou de fato. Uma vez ficaram conversando enquanto ao lado o namorado dela, o amigo direto de Renato e um terceiro amigo falavam sobre música clássica, como se fossem entendidos do assunto de verdade e não estudantes de Economia. Renato e Amanda falaram sobre Pixies (que ela gostava e ele nunca se interessou tanto), sobre Los Hermanos ( que ele fingiu ser amigo para pregar uma peça), sobre novas bandas e caminhos alternativos para o Rock. Renato concordava com a tese que Strokes era um sopro de novidade no Rock e Amanda insistia que Rolling Stones nunca saiu de moda. Antes de ir embora, Renato passou sozinho no McDonald's e pediu um nº1 com Coca.

O tempo se passou e pouco se viam. Renato nada sentia por Amanda, Amanda nada sentia por Renato. Eram familiares desconhecidos, e nada mais. Ambos estavam naquele grupo de pessoas que são legais, mas não importantes na vida. Mas a vida moderna inclui os amigos e os só conhecidos no mesmo orkut, e lá estavam eles conectados numa rede social.

Amanda largou o amigo. Foi no memso lugar onde Renato a tentada convencer sobre Strokes, mas não existe nada de mágico nisso. Só faz a mágica quem tem a coragem de enfiar a mão na cartola para tirar o coelho. Isso foi apenas contingência, palavra que anos mais tarde Renato aprendeu com Amanda. E ao contrário da primeira avaliação de Renato, Amanda era uma pessoa sociável. Continuou amiga de todos os amigos do ex. Agora, ela simplesmente fazia parte.

Uma vez num acaso encontro de cinema ela disse que achava Renato um menino interessante. Ela não tinha carga de desejo nenhum nessa frase, e Renato não achou carga de desejo nenhum de volta naquele dia. Naquele dia.

Começaram a e falar por MSN, bem lentamente. desde o dia que foram apresentados, fazia mais de 24 meses que iniciaram o processo de se tornar íntimos. E mesmo com tudo diferente foi pintando de repente uma vontade de se ver... para Renato. Amanda Mônica preferia continuar gostando do Banderas e do Bauhaus, de Mutantes, Caetano e Rimbaud. Menos de Renato.

Renato iniciou o processo de tentativa, mas Renato, como vocês já puderam perceber, era lento. Ele sempre foi lento em tudo. Lento para entender certos processos do mundo e lento até para me contar essa história, que eu fui descobrindo aos poucos. Uma ano depois dessas conversas. Renato não cabia mais em si e disse num rompante de desejo que queria Amanda. Mal havia mandado essas palavras para ela, se arrependeu: Não era assim que funcionavam as convenções socias, era sinceridade demais para ser dita. Um nível de falsidade precisava sempre existir. Mas para sorte de Renato, Amanda disse que ele não precisava fugir e esconder esses sentimentos. E para o azar de Renato, Amanda amava outro.

E desde desse dia Renato se sentia com ela como o menino pego pela mãe no banheiro com as calças na mão. Havia um elefante na sala e em vez de conversar sobre isso, estavam dando amendoins para ele. Amanda era generosa, mas nunca decidiu mergulhar nessa aventura. E Renato só fazia o que sabia: Esperar. Amanda ainda gostava de um certo nível de provocação, e Renato se contentava com o que tinha.

Até que 30 meses depois da confissão de Renato e 66 meses depois de serem apresentados. Amanda cedeu. Não havia mais segredos entre eles, e ela o admirava, em sua forma. Renato se sentia especial por ser admirado por uma menina que ele julgava única, e que tinha o grave defeito de não querer ser dele. De certa forma, isso o fazia se sentir importante e quando Amanda disse para Renato o que pensava de homens que não escolhiam Coca-Cola, Renato se sentiu mais especial do que nunca.

Foram 3 encontros num quarto de motel. O primeiro beijo do "casal" aconteceu já dentro do quarto. Não era preciso joguinhos para entrar lá. Ambos se conheciam mais do que imaginavam e Amanda, observadora nata, sabia mais sobre Renato do que Renato poderia imaginar. E nesses encontros, Amanda se entregou como troféu, e permitiu a Renato que ele a usasse como quisesse, e que fizesse coisas que ele nunca fez com outra mulher. Pela primeira vez na vida, Renato se sentia tão poderoso quanto os amigos que ele admirava e julgava nunca conseguir ser. Finalmente Renato era um Rockstar, não importava que a plateia fosse de apenas uma pessoa. Aquilo era clássico como Rolling Stones e estava salvando o Rock da vida de Renato como Strokes

Mas Renato errou a mão. O que achou ser apenas 3 encontros furtivos na noite da Lapa eram na verdade agora 68 meses de relacionamento desgastado com o tempo, com uma crise dos 7 anos que chegou um pouco mais cedo. Como quem dá um doce e tira. Amanda se foi. "Você não pode dar o que eu preciso" ou alguma frase típica feminina assim que ele não soube explicar direito. Renato era mais uma vítma desse Rock moderno, que idolatra uma banda para no Grammy seguinte a esquecer. Renato virou Old News sem perceber que já tinha surgido como Old News.

Dia desses, Renato teve que passar pela Lapa, e quando deu por si passava em frente ao motel da Lapa, dos encontros e dos gemidos. Assim que passou pelo primeiro botequinho, pediu uma garrafinha de Coca-Cola e tomou de uma vez, como quem escreve uma carta de suicídio, como quem assina um atestado de mediocridade. Renato deve ter levado só uns 2 goles, para meu espanto e de outros presentes lá.

Eu, que fui entregar uma máquina fotográfica e tinha parado para comer nesse mesmo botequinho, estava ao lado dele. E foi para mim que Renato contou esse caso, e fez questão de frizar que ao menos numca chorou por ela, disse, visivelmente tenso.

Eu acredito. De fato, tenho certeza que Renato nunca tenha chorado por Amanda.

Não com os olhos.

18 outubro 2010

O Inimigo agora é Outro

Soando mais facista possível, peço licença a todos os não-cariocas e venho me dirigir a eles e somente eles: Se você, nascido e criado no Rio, entrou do mesmo modo que saiu do cinema ao ver "Tropa de Elite 2" você não tem alma e não pertence a esse lugar. "Tropa 2" é um Hino de amor ao Rio, do modo dele. Todos os modus operandi ali são cariocas.

Capitão Nascimento no primeiro filme é um personagem imutável e desumano. Muitos imbecis viam aquele vilão e compraram o discurso achando que aquela era a mensagem do filme: Em "Tropa 1", se você não é maconheiro da PUC, o filme não critica muito você. Mas isso era apenas o consumidor final e o último comerciante. É um recurso muito utilizado em seriados. As primeiras temporadas tem um vilão, e quando chega a segunda temporada, aparece um vilão bem pior, e vemos que tudo ali era nada perto do que estava por vir. Em "Tropa 1", o falso vilão é o traficante Baiano (vilão mesmo é o Capitão Nascimento). Em "Tropa 2", quantos "Baianos" aparecem na tela e não duram nem 5 falas? Não era preciso se envolver mais na estrutura entre traficantes e policiais corruptos: A Classe Média já veio enfrentar as filas de cinema pronta para reverenciar o seu cavaleiro que veste negro, agora promovido a Tenete-Coronel Nascimento. O próprio filme brinca com isso em uma cena, onde Nascimento é aplaudido em público ao ser reconhecido. Mas se os maconheiros da PUC eram a engrenagem de lucro dos inimigos no primeiro filme, agora estamos falando com você, amigão.

Mas o arauto da salvação do Baixo Leblon, após anos e anos olhando de cima os traficantes, tem que se virar para cima. E o que ele vê no alto o faz duvidar de sua missão. Tal qual Jesus Cristo, Nascimento duvida (Ó BOPE porque me abandonastes?). E por duvidar, ele nos mostra seu lado humano, tão ausante no primeiro filme que só ouvimos em "Tropa 1" seu nome de guerra. Agora ele tem um nome comum - Roberto Nascimento - e uma guerra dele, pessoal, pelo coração de seu próprio filho, com o "Sociólogo de merda", que fingimos não ser o Marcelo Freixo, exemplo de ser humano no combate as milícias e que eu tenho orgulho de ter feito parte da votação em massa que ele recebeu no Rio de Janeiro para deputado estadual, perdendo apenas para Wagner Montes. Por sinal, vocês também finjam que ele não existe no filme e que o personagem do André Mattos não tem nada emprestado dele.

O filho de Nascimento fica meio que como uma representação da sociedade. E aí, quem você quer como exemplo? O "cara que bate em pessoas" ou o "amigo de bandido"? (Não concordo com essa denominação do deputado, mas entendo os motivos que fazem o Tenente-Coronel Nascimento pensar assim). E aí descobrimos onde está o ponto fraco do nosso Fuhrer Carioca e ele se mostra capaz de errar e admitir os erros que cometeu.

Além disso, se mostra capaz de perceber que a missão que ele achava ser nobre servir a outros interesses. Quem lucra com a guerra ao tráfico de Drogas? O Filme dá uma aula sobre a História moderna da nossa cidade, passando por pontos chaves como a rebelião de Bangu I, Tim Lopes e os jornalistas do Jornal O DIA que foram torturados por milicianos, Wagner Montes e a influência de programas mundo-cão no cotidiano do Rio, como funciona a estrutura das milícias na Zona Oeste e o BOPE. O bom e velho BOPE, que Nascimento enche a boca para falar que em sua gestão na Sub-Secretaria de Segurança cresceu e virou uma máquina de guerra que ajudou a desmontar a criminalidade do Rio de Janeiro, como um Dom Quixote, tratando Baianos e similares como moinhos de vento. E vale ressaltar como a perda do "aspira" Neto em "Tropa 1" realmente transformou André no substituto ideal do Velho Nascimento, que foi treinado por ele muito bem, imagem e semelhança.

Aos poucos, Nascimento vai percebendo que o inimigo é outro, e que ele ajudou esse inimigo a se fortalecer. Espero que junto com ele, toda essa classe média idiota que o idolatra perceba que se eles não estão do lado de pessoas como o deputado Freitas, eles estão em algum ponto da engrenagem de lucro dos grandes inimigos dessa cidade.

13 outubro 2010

A vitória dos idiotas

Votei no Plínio do primeiro turno. Muita gente deve ter votado como galhofa, eu votei por convicção política. Nem nos meus tempos de IFCS eu tinha votado de cima até embaixo tão à esquerda. Além do Plínio, votei no Jefferson Moura, no Milton Temer, no Chico Alencar e no Marcelo Freixo. Todos serem do Psol é uma coincidência, todos serem de esquerda não.

É inegável que a esquerda fez muito mais a cabeça dos jovens nos últimos anos, e que esses jovens fatalmente cresceriam e votariam no Lula. Ver o Lula na presidência era questão de tempo, nós não percebíamos por causa da piada nacional que se tornava o Lula como eterno vice. É óbvio que entre o Lula de 1989 e o Lula de 2002 muita coisa aconteceu, e muitas concessões precisaram ser feitas, mais ainda entre o Lula de 2002 e o Lula/PT de 2006/2010. Algumas compreensíveis e até naturais, como Ciro Gomes e José Alencar, outras indigestas, como Sarney e Collor. Esses dois últimos representam a política mais simulada de medievalismo que temos, e parece impossível que aquele mesmo Lula de 89 esteja ao lado deles. Tanto parece impossível que é, o Lula do lado deles é outro, um homem mais amadurecido e que ganhou muitos votos por esse amaduecimento e alianças, e perdeu tantos outros, como o meu.

Meu voto no Plínio era em nome de como ele balançava os adversários com perguntas simples, que vinham não dele, mas dos movimentos sociais que ele se propôs a dar voz. Ninguém quis comprar a briga do latifúndio, pois ninguém quis comprar briga com agricultores financiadores de milhares de campanhas para prefeitos e deputados interior afora. O povo das cidades, principalmentes os imbecis que assinam manifestos dizendo que a culpa do estado deplorável de São Paulo ser da imigração de nordestinos, não entendeu que tendo terra para plantar e se unir em cooperativas, os agricultures não tem que se deslocar aos grandes centros em busca de um sustento para as famílias.

Houve quem desqualificasse Plínio por seus investimentos pessoais passarem a casa do milhão. Esses estão confundindo seriamente socialismo com comunismo. Não sou a favor do estado encampar a Coca-Cola, a Pespsi e outras e passar a vender refrigerantes com preços planificados, mas acredito que nem todos os setores da economia são lucráveis. Em outras palavras, acho 'saudável" a concorrência entre a Coca-Cola e a Pepsi, mas não a da Unimed com a Golden Cross ou a Amil. Tem quem diga que é muito fácil ser socialista com 2 milhões no bolso. Pelo contrário, e muito mais difícil. Na verdade é muito fácil ser conservador e reacionário quando o jogo está a seu favor, queria ver essa direita tão orgulhosa e cheia de si continuar de direita sem os privilégios que eles não conquistaram, mas que sua classe social embarcou faz muito tempo.

Se o ProUni deveria financiar mais a Universidade pública em vez das particulares é uma discussão. Se o ProUni precisa existir é uma discussão que só existe em quem está fazendo um pré-vestibular do pH ou grupo Objetivo e acha injusto as classes mais baixas terem acesso facilitado que eles. No dia que o Judeuzinho de ipanema tomar uma dura simplesmente por ser morador de uma determinada área, vou entender.

Pelo menos o 2º turno vai obrigar os modinhas da Tia Marina a mostrar que são de esquerda ou direita. Sim, se você acha que não existe esquerda ou direita mais você ou é de direita ou muito idiota. E nesse segundo turno eu estava voltado a sim, seguir na esquerda e votar Dilma, mas não sei se consigo mais ao ler que provavelmente ela assinará um documento que se compromete a vetar toda e qualquer lei que possa ferir os fundamentos cristãos. É a vitória dos idiotas e não há palavras mais leves que possam caber aqui.

O estado é laico e as pessoas são livres para manifestar sua crença. As pessoas são livres para seguir em que acreditam. Contraponto a isso, as pessoas são livres para não seguir o que não acreditam. Quando o casamento-gay não é aprovado, a impressão que dá é que a Ditadura se faz presente ainda, pois o papa hóstia não se contenta em não ser gay: Ele não quer dar liberdade alguma a quem quer. Eu não consigo conceber que o casamento gay não seja óbvio de ser uma garantia, um direito fundamental. Os babacas que rezam para o papai noel dos adultos atacam isso como se fosse obrigatório se casar com uma pessoa do mesmo sexo.

Eu esperava que o Brasil tivesse discussões melhores para uma eleição para presidente. Esperava também que as questões de crença e comportamento dos políticos não fossem tão importantes aqui quanto são nos estados unidos. Lá, um boquete no Clinton, uma inocente e cristã chupadinha custou ao mundo 8 anos de Era Bush. Aqui, uma discussão de idiotas capitaneada pelos idiotas sustentadores de pastores pode nos guinar para 8 anos de direita, 8 anos onde o estado novamente achará que o mercado está sempre certo, 8 anos sem ninguém com moral e história honradas o bastante para bancar medidas fortes que o governo precisa fazer.

Mas é como dizem, se Deus existe, deve amar os idiotas, pois fez um monte deles.

10 agosto 2010

O Twitter dos outros - 1

Por um preconceito nem tão bobo, eu demorei um pouco para entrar no Orkut. Explico: tinha uma amiga que não parava de falar de Orkut, que Orkut é isso, que Orkut é aquilo, mil maravilhas. Aquilo foi se tornando tão chato que eu transferi para a pobre Rede Social. Então eu entrei num estágio intermediário, onde ainda haviam comunidades em inglês, mas já haviam os joguinhos. Fiz um pouco parte da galera que entrava em comunidades gringas e falava na língua que fosse, afugentando ainda mais os americanos e impedindo o Orkut de um dia sair do Beta. Mas os pioneiros, ah, os pioneiros, choravam de pena com o que estava acontecendo, era como brincar de pique-pega na biblioteca de Alexandria. Enfim, logo em seguida (2005) o Orkut virou um campeonato mundial de colecionadores de gente, onde as pessoas eram adicionadas apenas para aumentar o "arsenal de amigos" (recebi um convite assim), as trocas de scrap se resumiam a "mande para seus amigos e mostre que os ama" e coisas do gênero.

Eu lembro também de ostentar no meu sub-nick de MSN a frase "Youtube é o site do verão" e pessoas apareciam para me perguntar o que era Youtube. Eu sei, essa informação pode parecer do tempo em que Plínio de Arruda era ministro de Moisés durante o Êxodo, mas foi logo ali, em 2005. Mas o Youtube nunca foi uma rede social de verdade. Pelo menos aqui no Brasil, sempre rolou pouca interação entre os usuários, funciona mais como um depósito de vídeo.

Mas o Twitter não. Eu entrei no Twitter quando uma panelinha blogueira ainda discutia o que se fazer com ele. Essa mesma panelinha blogueira (blogueiro em si já é uma panelinha) atravessou isso tudo: Orkut, Youtube, etc, e permanecia. E por um tempo, nós éramos o twitter no Brasil. E ninguém ganhava nada com isso. Eu lembro que perguntei, antes de entrar, se 140 caracteres não eram pouco. E perguntei também se Twitter era para quem tinha ejaculação precoce no cérebro. E com essa pergunta, ganhei meu primeiro RT, antes de ter um Twitter de fato.

Mas graças a muitos fatores, o processo de orkutização do twitter JÁ aconteceu, e é sobre isso que esse post trata. Talvez guiados pelo Trending Topics, alguns fã-clubes de bandinhas ruins e barulhentas resolveram que o bom era mostrar a força de seus amores repetindo sem parar #brazillovesjonasbrothers. E de repente, gente que não conseguia nem escrever em menos de 837465837 caracteres uma ideia tinha mais de mil seguidores. Por que essa pessoa não para e faz um blog? Simples, porque no Twitter o número de seguidores (e que nome ruim para isso) está ali, bem no alto, para quem quiser (ou não) ver. E de repente, a estranheza. Eu vejo o TT'Br, olho minha timeline e me pergunto "Mas onde é que estão falando disso, meu Deus?". Simplesmente surgiu um mundo paralelo, onde impera a lei do "me segue que eu te sigo", onde pessoas usam SCRIPT para aumentar de seguidores.

Admito que pareço um velho ranzinza que fica falando "no meu tempo...", mas ó, no meu tempo, o Twitter era uma ferramenta extremamente dinâmica de comunicação e propagação de ideias e links, evitava a verborragia latente deste que vos fala (e que de volta ao blogger, pode aparecer em toda sua graça). E não uma obrigação de dar RT em TODA E QUALQUER afirmação do @vouconfessarque que se encaixe com suas experiências, em uma guerrinha de tags #cinebomdemias e #cinebandigay. A guerra de egos sempre existiu, afinal blogueiro e ego são duas coisas inseparáveis, mas essa luta virou pregão da Bovespa, apenas grito. A guerra de egos-arte, com dois pontas e toque de bola no meio campo, onde as trocas de farpas eram mais diretas... Essa já era. A não ser naquele mundinho dos meus amados da minha TIMELINE LINDA, que olho e só consigo pensar que existe um mundo paralelo no Twitter, de jovens sem camisa gritando ADD EU e de meninas se unindo para que o Twitter aceite GIF animados.

Mas nem meus amigos LINDOS estão livres do que Monteiro Lobato chamaria de "Furúnculos da Cultura Exagerada", como uma certa vaquinha recentemente demonstrou. E sobre isso, deixo para a continuação dessa série, que sabe lá Deus quantas partes tem.

Pré-respostas de pré-comentários

- Se você não gosta de alguém ou do que alguém dá RT no seu Twitter, é só não seguir!

O RLY?? Puxa, obrigado por me avisar, nem sabia dessa! THKS, Champs!

- Se você não quer participar, é só ficar quieto!

Art 5º - Inciso IV, Parágrafo Bjomeliga

- Quem você pensa que é para dizer como os outros devem usar o twitter?

O Capitão Nascimento

- Você se acha superior aos outros só porque não usa scripts? E você que é feio e nem emprego de verdade tem?

Nada disso, conforme explicarei adiante: Não tenho gerência sobre a vida de ninguém, e vou defender sempre o seu direito de fazer o que quiser. Mas é do jogo democrático que eu te sacaneie pelo que você faz. Você também pode me sacanear. Sou gordo, feio, um loser, tem um monte de coisa, tirando que minha namorada é melhor que a sua.

17 junho 2010

Dossiê R.H.

Por mais que seja extremamente óbvio, gostaria de usar esse espaço nada democrático para declarar o quanto eu odeio entrevistas de emprego. "Dã" é o que eu posso ouvir você dizer, do outro lado do monitor, enquanto saboreia seu Doritos e se prepara para o StandUp Comedy do Casagrande num espaço inédito, os jogos da Copa do Mundo. Mas eu sei que é óbvio, já que na maioria das vezes uma pessoa numa entrevista de emprego está lá porque, er, não tem emprego, o que já era uma situação complicada quando TV a cabo não fazia parte do orçamento familiar, imagine agora. Sabendo disso, as empresas - e os já empregados - resolveram criar uma forma de se divertir com isso, apelidada de Departamento de Sadismo Enrustido, mais conhecido pela sigla R.H.. Curioso que Sadismo Enrustido deveria ser S.E., mas acho que o primeiro a digitar errou e ninguém teve coragem de consertar, devia ser o chefe.

Pois bem, o pessoal do R.H. gosta de duas atividades: A entrevista de emprego e a dinâmica de grupo. Cada uma mais peculiar que a outra. Aposto que nas reuniões em que se decide o que vão submeter os candidatos, uns dois saem passando mal de tanto rir.

A entrevista de emprego deveria ser proibida por lei de se chamar entrevista. Basicamente o que acontece é que o entrevistador fica lendo seu currículo na sua frente. Com o agravante de que ele pediu para que você levasse o currículo, mesmo que no e-mail exigido para se candidatar a vaga, o currículo tenha sido pedido também. "Ok, fiquei com isso por uma semana na minha caixa de entrada e mesmo assim não vou me dar ao trabalho de ler, vou esperar você levar uma cópia impressa que não vai me custar tinta e nem vai machucar meus olhos, e aí vou perder um tempo enorme e vou ler bem na sua frente em vez de fazer perguntas muito mais interessantes sobre a sua pessoa, já que o tempo é curto e tem um monte de gente para ler o currículo também".

Sempre tem uns agravantes, e a pior delas é a pretensão salarial. Meu amigo, eu não tenho emprego, se você me propor dançar a Macarena por 5 reais eu levanto sem pensar duas vezes. É o maior exercício de crueldade possível. Se você pedir baixo demais, pode achar que eles vão te contratar por essa merreca ou que você não dá valor suficiente a você mesmo. Se pedir alto demais, vão achar que você tem muita ambição e que pode sair da empresa por duas mariolas a mais na concorrência. Se você diz o valor exato, vão ter certeza que você tem algum conhecido na empresa que cantou a pedra antes. Uma vez em uma entrevista de emprego em 2004 o selecionador que tinha um porta-retrato virado para ele perguntou: "Você tem namorada?. "Sim, tenho", foi o que respondi. "E o quanto você gosta dela?. Olhei pro lado e vi um sofá na sala, imaginei que o porta-retrato tinha uma foto do Alexandre Frota e pensei "Droga, vou ter que enrabar esse cara". Mas não, tudo era uma questão de que o emprego exigia viagens e blá blá blá.

E nas dinâmicas de grupo, toda a criatividade desses "desafios" parecem gritar "RIARIARIARIA DROGAS, MANO!!!". Das coisas mais simples, como o tal "desenhe alguma coisa" até a dinâmica com o ovo, tudo parece fazer algum sentido psicossomático. Mas não, tudo será motivo de riso no happy hour de sexta. Uma vez, numa certa emissora de TV em Jacarepaguá, eu desenhei uma ampulheta, expliquei uma história muito bonita falando que a ampulheta tinha um andar de tempo mais belo que o relógio, porque enquanto o relógio é cíclico e se repetia, na ampulheta, o próprio tempo em si precisava da ação do homem para acontecer. Isso significava que o tempo em si era uma construção da humanidade, e dependia da humanidade para existir. Coisas assim, que ouvi na faculdade de história. Passou o cara que tinha experiência em outra emissora de TV e desenhou ele mesmo ouvindo música no quarto.

Na última entrevista de emprego que fui, o desafio era grande, salário de USD 1900 e a entrevista era em inglês (isso só foi dito quando chegamos). Como algo sempre precisa dar errado, eu tinha aparado a barba no dia anterior, mas esqueci de raspar na manhã seguinte, só me lembrei já na Av. Brasil. Para ganhar tempo, o entrevistador preferiu fazer a entrevista em pares. Na entrada da sala, ele mandou um "how are you?" e eu respondi um "I'm pretty fine, sir. Thanks for ask" e ele fez um olhar respeitoso. Deu a impressão que eu morei 10 anos no Brooklin. Daí o meu par na entrevista foi uma menina e eu, todo querendo dar uma de polido, disse "Ladies first". Para que? A menina falava inglês com uma fluência que foi me deixando nervoso. Quando chegou minha vez. Eu parecia - sem sacanagem - um integrante do Hamas fazendo ameaças num vídeo do grupo. Aquela situação constrangedora, aliada àquela minha barba e minha meia cara de árabe me deu vontade de olhar o relógio, virar para Meca e começar a rezar cantando. Mas me controlei.

Isso tudo posto, segue aqui o maravilhoso Guia de Metas Diego Paiva para Melhorar a Humanidade Através de Entrevistas de Emprego:

1 - "Desenhe algo"> Desenhe a empresa e um cara com uma coroa no alto. Desenhe uma favela do lado. Explique que no sistema capitalista, para existir aquele dono de empresa, uma favela intera precisa existir também. Relaxa, o cara que tem mais experiência no tal tipo de serviço iria ficar com a vaga de qualquer modo

2 - "Dinâmica do Ovo" > Te colocam em roda, te botam um ovo na sua mão e colocam uma música horrível tocando. No final, você tem que quebrar o ovo no chão. Aceite o ovo e quebre no final da música... na cabeça do cara do R.H.. Ou na sua mesmo, se você tiver a manha de urrar bem forte e ter roupas limpas na mochila. Caso seja expulso, berre algo sobre a castração da liberdade criativa no sistema moderno de produção. Seus amigos do IFCS ou da FFLCH vão te achar um herói.

3 - "Pretensão Salarial" > Essa é boa, assim que ele perguntar, responda sem perder nenhum segundo "Tio Patinhas". "Ahn?" deve ser a reação, ou similar. "Tio Patinhas", você responde novamente. Ele vai dizer que precisa de um valor, um número. Incline levemente e lentamente a cabeça para a direita, aponte o dedo indicador direito para a testa, diga "Tio Patinhas" e em seguida levante a sobrancelha. Preste atenção, o movimento da cabeça e da sobrancelha deve ser muito bem ensaiado para que o entrevistador pensa que o idiota é ele.

E no mais é isso. Empresas de R.H., aceito ofertas. Tenho um curso de teatro, duas faculdades incompletas mas acho pouco, pretendo não terminar mais umas duas. Faço mais o estilo Felipe Melo way of Life ("Meu amigo, eu sou volante"). Prometo explorar dos candidatos as vagas não só respostas prontas e adaptadas de algum texto do Max Gehringer, prometo descobrir a fundo o que esse cara é, o que o faz RESPIRAR (metafisicamente, não o diafragma) e o onde ele pode ser melhor aproveitado apenas em uma sexta feira no bar. Pretensão salarial: Tio Patinhas.

15 maio 2010

Brasileiros em séries americanas, Remix

Que o ator brasileiro Rodrigo Santoro fez a Série LOST na terceira temporada todo mundo já sabe. Que a participação foi uma droga e não deu tempo de nada você também já sabe. O que você talvez não saiba é que ele não foi o primeiro brasileiro a se dar mal em algum seriado amaericano, muitos já tentaram essa chance, mas nunca conseguiram passar do episódio piloto. Nós vamos agora colocar o dedo na ferida nessa reportagem-denúncia, revelendo todos os fracassos artísticos tupiniquins que já ocorreram.

Quevedo em Arquivo X


Ok que o Quevedo não é brasileiro, mas ele já faz parte da cultura nacional, como o Roberto Leal e o Fernando Meligeni. Por sua antiga tradição de desvendar mistérios e seu garbo e elegância na frente das câmeras, Quevedo foi a primeira pessoa a ser cogitada para o papel de Mulder na série. Só que seus improvisos acabaram deixando os diretores e produtores muito irritados, que acabaram por terminar sua participação e trocar o ator por um mais novo, ainda em formação e mais fácil de ser moldado.

Scully:
- Você viu isso? Viu esse vulto?
Mulder:
- Ah, que vulto que nada, isso ser o seu sombra, aqui é mal iluminado
Scully:
- Deve ser um alien!
Mulder:
- Alien non ecxiste!
Scully:
- Um espírito?
Mulder:
- Espírito non ecxiste!
Scully:
- Er, então... o bicho-papão?
Mulder:
- Isso non ecxiste!!!


Dráuzio Varela em Plantão Médico


Antes do convite do Fantático, o doutor Dráuzio, mais conhecido lá fora como Dr. Carandiru, recebeu uma proposta para participar de E.R., num episódio revolucionário buscando trazer de volta a audiência perdida ao longo dos anos. Depois daquele sucesso no episódio ao vivo, a produção resolveu usar pacientes DE VERDADE na tentativa de adicionar realismo à cena. Mas seu estilo didático não combinou muito bem com a proposta de mostrar o cotidiano de uma sala de emergência.

Enfermeiro:
- Ele está perdendo muito sangue! Rápido doutor!
Dráuzio:
- [se vira calmamente para a câmera, didaticamente] Em acidentes de automóveis, o paciente deve ser retirado cuidadosamente, pois seu pescoço pode estar quebrado e...
[o paciente dá um berro]
Dráuzio:
- Isso é o que o trauma do acidente pode causar, o acidentado se desespera e passa a perder o controle motor
Enfermeiro:
- Rápido, ele vai morrer!
Dráuzio:
- A equipe médica devese comportar com frieza e...


Dercy Gonçalves em Sex and the City


Antes de bater as botas, Dona Dercy foi procurada para tentar salvar uma série ridícula, mas seu estilo único e sua grande expressão verbal não combinaram com o contexto da série

Solteirona 1:
- Ah, eu acho que homem não presta
Solteirona 2:
- Já eu acho que homem não presta e que são ridículos
Solteirona 3:
- Discordo de vocês, eu acho que homem não presta, são ridículos e se acham demais.
Dercy Gonçalves:
- Ah cambada de mal comida! Vão pilotar um tanque! Não abrem essas b... já tem anos e querem colocar a culpa nos homens! Ah, vão se f.. todas vocês!


Belo em Prison Break


Originalmente o papel de Michael Scotfield ia ser do governador Arruda, mas o STF decidiu que Arruda podria participar da série em prisão domiciliar. A ideia não foi para a frente porque perceberam que o Belo criando um plano de fuga da prisão ia ser tão verossímel quanto um plano infalível do Cebolinha.

Sucre:
- Falta pouco para eu sair daqui pela porta da frente, Papi! Por que você espera que eu vá ajudá-lo?
Michael:
- Porque sou seu companheiro de cela e se você não me ajudar eu vou cantar Mundo de Oz toda noite.
Sucre:
- Me dá essa pá, vamos cavar essa p...


Mallu Magalhães em Glee


A nossa estrilinha sou-teen-mas-não-canto-música-teen-tchubaruba era a primeira escolha para uma protagonista loser, por razões óbvias que nem precisam ser mencionadas. Mas sua er... vamos dizer assim, "Fluidez" nos diálogos fez com que uma narebuda qualquer lá pegasee o papel em definitivo.

Will:
- Você quer ser uma estrela?
Rachel:
- É...
Finn:
- Você acha que sabe cantar?
Rachel:
- Ô...
Quinn:
- Você acredita que vai roubar de mim o capitão do time de futebol, logo eu que sou a grande líder de torcida que essa escola já viu?
Rachel:
- Tchubaruba?

E não percam no próximo episódio de "Siga bem Caminhoneiro": Pedro Cardoso em Friends, Luís Fernando Guimarães em West Wing e Alexandre Frota em 24 horas.

(Texto original de set/2006, recauchutado e remixado)

24 abril 2010

É preciso prática para beber vinho

Acho que desde 2006 eu não bebia o vinho Cantina da Serra. Eu sei o que alguns de vocês estão pensando, estão revoltados e coçando o dedo para bradar "Cantina da Serra não é vinho!", Mas para fins práticos vamos considerar nenhuma filosofia desse tipo, que é equivalente a um "Atlético-PR não é time!". Ora, tem uniforme, joga com 11, é time sim. Se é bom ou não é uma questão de opinião e fase. Mas é time.

Antigamente eu tomava esse vinho semanalmente, nos tempos do IFCS. Na Lapa e nas noites adentro das maratonas Odeon a garrafa oficial era a minha. Umas duas semanas atrás recebi a visita de dois amigos, e na correria de comprar cervejas, escolhi o Cantina da Serra na promoção de um posto, correndo, meio que sem pensar, para um amigo que não bebeia cerveja. O amigo saiu daqui sem um gole sequer, não sei se ofendido pela marca escolhida ou alguma questão superior. Mas no dia seguinte eu resolvi abrir o treco, e no primeiro gole aquela coisa desceu tão estranha na minha garganta que eu fiquei meio assustado de saber que bebia aquilo sempre. Como eu conseguia?

Nesse momento, acabei de terminar o último copo da garrafa. Com um pouco de insistência, e uma chegada em casa ainda sobre o efeito de alguns chopps, o vinho desceu. E depois, no dia seguinte, aquela cara feia intercalando os goles não existia mais.

O vinho é uma bebida paciente. Ela não sai da produção direto para seu paladar. Ele espera, cauteloso e temeroso de seu destino, em algum lugar, por volta de dois anos. O vinho não sabe construir relações rapidamente, ele só se sente à vontade em algum lugar depois de um tempo. Certas pessoas são assim como o vinho e não se sentem prontasde imdiato para consumo. A estas é preciso se dedicar com a paciência de um sommelier para se construir uma relação. Normalmente uma pessoa como o vinho é tão chique quanto. Entenda: Por mais barato que o vinho seja, ele ostenta uma certa 'classe' do lado das cervejas.

E provar o vinho, como expliquei no começo do texto, é complicado também. Se seu paladar não está acostumado, ele não desce bem. Mas aos poucos, você não quer tomar outra coisa. E nos resta fingir ser sommelier, tentando fazer com que o paladar seja adequado.

13 abril 2010

O Velho e o Moço

Domingo no Rio de Janeiro. Enquanto toda a atenção da cidade se virava para o Maracanã, eu estava longe de lá, de corpo e de cabeça. Passando pelo calçadão de Copacabana, ainda sujo da areia que o temporal e a ressaca fizeram subir, vendo o brilho da tarde refletindo em ondas, vidros e pessoas, algo estava perto de ter uma conclusão.

Antes disso, dois adendos: Faz algum tempo, eu vinha tendo sonhos 'continuados'. Não exatamente continuações um de outro, mas cada um desses sonhos continuavam algum sonho antigo que eu tive e me lembrava. Era estranho, nunca tinha acontecido e menos ainda com uma frequência tão grande. Imaginei que isso tivesse algum sentido, alguma resposta. E nesse domingo, estava tão cansado e sem vontade de sair que tinha lutado com todas as minhas forças para sair. Pode ser apenas coincidência, mas um esforço maior me tirou de casa, um esforço maior que me levaria a um lugar e que justificaria sua razão de existir.

De dentro do Forte de Copacabana, assisti a orla deixar o amarelo de lado e ganhar uns tons de violeta. Aquele meio termo, aquele transitório pintava o céu e tornava o lugar mais belo do que poderia ser. No caminho de volta, ouvimos uma música. Dentro de uma das salas um grupo de chorinho executava uma canção. Ficamos na porta, e logo nos indicaram que haviam lugares disponíveis.

Como era Copacabana não podia ser diferente. Dentro da sala, tirando os músicos, qualquer um ali era no mínimo a tia mais nova de nós dois. Só de entrar tinhamos baixado a média de idade da audiência em algumas décadas. A música era boa, linda, bem executada. e deu-se a mágica.

Um casal de senhores começou a dançar na frente dos músicos. Minha namorada achou fofo demais, eu comecei a sorrir, e aos poucos, aquele sorriso foi se transformando numa emoção sem sentido algum, inexplicavél, que eu não sabia de onde vinha e nem para onde ia. Aquele senhor, usava uma camisa social e uma boina, como eu. A diferença é que as duas eram brancas. As lágrimas caíam dos meus olhos sem sons ou soluços inoportunos, mas caíam com a velocidade de um grande choro. Gotas e mais gotas incessantes, mas eu estava sorrindo. O que estava acontecendo.

Enquanto o casal rodopiava com uma elegância assustadoramente perfeita, eu disse para minha namorada que "não entendia o que estava acontecendo comigo". Ela me disse que é por causa da minha avó, por ela estar doente e mal andar. Eu sabia que não, mas não queria começar uma discordância, ainda mais com algo que só era claro, só era bonito e só fazia sentido para mim.

Aquela história de continuidade, que antes estavam nos sonhos, tinha chegado a vida real. Todos esses sonhos, todo aquele esforço sobrenatural para me tirar de casa num domingo, tudo aquilo estava justificado naquele momento. Aquele senhor que rodopiava alegremente na frente de todos, ouvindo um chorinho, era eu, era minha continuidade. Ou pelo menos poderia ser o meu futuro, se assim eu quisesse. O que a música, os sonhos e aquele sorriso do rosto coberto de rugas e recheado de simpatia queriam me contar era: É possível continuar, é possível ser feliz, e é possivel chegar a isso. OUÇA SEUS SONHOS. O mundo ainda podia ser um bom lugar, o mundo ainda permitia momentos como aqueles, dentro daquela sala. Continuar era necessário, com 'continuar' no sentido mais amplo e metafísico possível. É egoísta e imbecil da minha parte pensar assim, mas algo dentro de mim justifica que todo aquele cenário foi feito para mim, que aquele momento só aconteceu por minha causa, para deixar o monstro dentro de mim quieto e guardado, pelo menos por mais um tempo até que ele ataque novamente.

E do Forte até o metrô da Cardeal Arcoverde, eu caminhava em passos lentos, enquanto imaginava, de camisa social e boina branca, rodopiar no compasso de Jacob do Bandolim.

24 março 2010

Um país de todos

Existem certas coisas que eu tenho vergonha de admitir que gosto, mas não por achar tal coisa ridícula, e sim porque estou ao lado de gente fanática por essa mesma coisa. Parece que sou um outsider por conta deles, e que eu não sei gostar de verdade daquilo. Nem falo daquela questão de gostar de "Adeus, Lênin" por ver a bonita relação mãe/filho ou por gostar de "Adeus, Lênin" por mostrar a falência de um sistemazzZZzz.

Dois exemplos disso são Los Hermanos e Teatro Mágico. Eu não entendo o nível de fanatismo que essas duas bandas provocam. Eu ouço e pronto, para mim é boa música, mas se amanhã acabam a vida segue. Quando os Los Hermanos anunciaram o fim, teve uma amiga que perguntou para mim o que seria da vida dela, que ela estava na merda, que tudo que restava na vida dela era o Los Hermanos. Bom, a banda acabou, mas ela ta aí, até hoje.

Teve também um caso de um cara, em uma comunidade no orkut, que contou para mim que ouvia Teatro Mágico porque a banda valorizava a cultura nacional e ensinava a aceitar as pessoas como elas são. Olha aí, nem sabia que o Manoel Carlos fazia parte da banda. Mas enfim, fiquei uma semana sem ouvir os pobres coitados de Osasco por pura vergonha alheia.

O que me leva ao caso da semana que passou: Senna. O nosso amigo Cleber Machado Fake foi bombardeado e quase teve sua retórica queimada e pendurada em praça pública por ter feito piada com o santo nome do santo Senna em vão. "Não se mexe com os heróis nacionais". "Senna merece todo respeito do mundo por fazer o que fazia", e outras asneiras patriotas do tipo. Eu gosto do Senna, e mesmo assim acho que ele já conquistou todo o respeito do mundo que merecia, inclusive em forma de milhões de dólares. A impressão que dá é que ele vivia num daqueles filmes estranhos, em que um cara apenas, ao realizar uma simples tarefa, liberta todo um povo. É de se admirar que hoje não tenhamos pistinhas de kart em cada lugar onde há um campinho de futebol.

Sabe porque eu como fã do Senna não fiquei ofendido? Aí está o grande pulo do gato, caros fanáticos analfabetos funcionais: NÃO HOUVE piada alguma que questionasse o talento e a habilidade no volante do Senna. Tudo que foi dito foi uma simples redundância do tipo "ele não correria hoje porque tem 50 anos". Ou o que, todo mundo achava que Senna estaria ganhando GP's de Mônaco até hoje? Mas bastou isso para todas as viúvas se ouriçarem e se desesperarem. A mera menção do sagrado nome de São Senna, essse menino humilde que jogava o carro contra o Prost por amor à pátria, foi o bastante para um ataque a um fake (hahahha gente, vamos rir, ataque a um FAKE).

O mais divertido de tudo é que o Fake se divertia com todas as reações, das mais exaltadas até as mais simples. Que pena para todos eles que nem conseguiam acertar na cara de uma pessoa de verdade.

então amiguinhos, um pouco menos e idolatria e um pouco menos de patrulha e zelo sobre a imagem de gente que nem conheceu vocês. E não se curvem para um cara que de curva não entendia nada, tanto que não soube fazer uma.

P.S.: Estava com aquele texto de estréia engatilhado e esqueci de dar o grande crédito para a volta do blog. Patrícia, eu Te Amo, Porra.

18 março 2010

Reiniciando

Sempre que eu ouço as pessoas falando que "a Internet não presta", eu sempre argumento da mesma forma: Podia ser pior, a internet podia ter o Felipe Dylon de dread tocando Iron Maiden.

A internet - e este blog - me proporcionaram muitas coisas na vida. Amizades, dinheiro, mulheres gostosas e principalmente essa vontade louca de mentir.

Estamos numa nova-velha era, onde o retrô dita as tendências, mesmo que seja com coisas ridículas que nunca deveriam ter voltado, como a Ploc 80, a Renault F1 abelhona e o Marcelo Dourado.

Pois então, nada melhor que retornar com um clássico que nunca foi, a eterna promessa, o Michael Owen dos blogs: Eu e Jack McFool, meu amigo imaginário, conversamos longamente sobre esse retorno, afinal, será que o Sonambulismo já não deu o que tinha que dar? Desconfiamos que sim, mas através de muito jogo de cintura, pilantrimos literários e recauchutagens de posts antigos que vocês nem lembram (ou nem leram, foram direto pros barracos em comentários), vamos retornar com esse blog da geração web 1.0, que postava loucamente por absoluta falta do que fazer.

Porque pior que isso, só se a internet tivesse o Felipe Dylon cantando Iron Maiden.

11 março 2010

testando versão 2010