11 agosto 2011

Perdoai as nossas ofensas

Se pararmos para pensar, vamos perceber que as maiores atrocidades da história foram todas cometidas em nome de um bem maior. Foi em nome de um bem maior que os judeus sofreram o que sofreram, foi em nome da soberania de uma religião que uns caras enfiaram um avião num prédio, foi por proteger alguém que nós, que não temos tantos poderes assim, mentimos.

Claro que mentimos por maldade, por vezes. Mas ninguém gosta da mentira. O seu organismo não sabe reagir muito bem quando você conta uma mentira. Para todas as suas células, você está ficando vulnerável. Mas mesmo assim, somos impelidos a fazer esse vil ato quando achamos que a pessoa não precisa (ou não pode) saber da verdade.

Normalmente, nosso primeiro pensamento é subverter a pergunta. Não mentir, mas também não contar a verdade. Se a pessoa insiste, mudamos de assunto sutilmente. Se a pessoa insiste mais ainda, mudamos de assunto como um elefante dança lambada numa loja de cristais. Se a insistência permanece, mentimos. E não, isso não justifica nada. Mentimos para nos proteger também. Para nos proteger da culpa que é magoar alguém que não fez nada de mal para a gente. O pedinte implora por um trocado e você diz "Hoje não dá". Esse hoje se repete todos os dias. Mas nos alivia dizer "só hoje serei cruel e não ajudarei esse pobre coitado a se alimentar ou se drogar, o que for mais importante para ele".

Minhas mentiras não são bonitas, não estão aqui em nome de um bem maior como fim. Podem até ter um bem maior envolvido, mas é um meio. O fim é não me sentir culpado por magoar ninguém. Já fizeram isso comigo muitas vezes, eu faço com outros, esses outros já devem ter feito com alguém. O problema é um fator de risco que as vezes explode e vaza na sua cara: Ser desmascarado.

Se você quer mentir, tem que se preparar para mentir o tempo todo. 24/7. Um pequeno descuido e você - que achou que não estava sendo observado - fica de cuecas, com a calça na mão, na frente de todas as suas tias-avós. E aí, a pessoa que você quis proteger está magoada. E não apenas isso, ela agora TEM o direito de ficar com raiva de você, e pode usar (para ela mesma) a desculpa do "ele mentiu" para ficar com mais raiva ainda, apesar da raiva maior ser outra, a que ocasionou a mentira.

Não sei se desculpas adiantam num momento desse. "tudo que fiz foi para te proteger do perigo maior que é você". Mentira, tudo que quis era não ter o ônus de carregar a cruz do sofrimento de alguém. Foi o equivalente as apostas do "O dobro ou nada". Pois então, deu "dobro". Agora só resta o tempo que deixa tudo ficar mais leve.




Nenhum comentário: